O
'Setúbal Guia' de Abril -uma publicação regular sobre eventos do mês na cidade e arredores, publicada pela CMSetúbal- tem na capa uma foto do Arquivo Municipal Américo Ribeiro de 1974. Chamou-me a atenção o velho bacalhau do Tenreiro; faz luas e quartos minguantes e crescentes que eu não lia ou via algo relacionado com o Comandante Henrique Tenreiro, o homem que nunca foi ministro salazarista ou marcelista, mas que acabou por ser o 'patrão das pescas' durante trinta e oito anos, a partir de um embrionário projecto: o '
Grémio do Bacalhau'.
Por isso, quase até à altura desta foto, foi o corporativista Tenreiro quem efectivamente punha e dispunha, traçava ou apagava as directrizes da política nacional das pescas, incluindo os financiamentos relativos a remodelação de frotas pesqueiras.
Entre grémios, cooperativas e uma teia de empresas relacionadas com o corporativismo, há uma, melhor: duas, que se tornaram ícones: a
Gel-Mar é uma e a outra é a defunta
SAPP (não: esta tem 2 Pês) e era, por extenso,
Sociedade de Abastecimento de Peixe ao País.
As carrinhas da
SAPP eram
Citroën transformadas para a venda de peixe fresco. Lembro-me delas como se tivesse sido ontem que lá tivesse ido buscar um pargo. O modelo de carrinha
Citroën era, de resto, o mesmo que a
Gulbenkian usava para as suas bibliotecas rolantes, mais bem cheirosas que as da SAPP (aqui ao lado numa foto da
Motor Clássico, em desfile nos Restauradores).
Para quem todo o poder sempre soube a pouco, Tenreiro acabou sem poder algum e sem reintegração na Marinha e por esta acusado. Preso em '74, o Brasil foi a sua última morada até '94.
O bacalhau foi, afinal, um animal político.
Créditos: imagens CMS e Motor Clássico