Entalado nas tardes de segunda a sexta, entre o 'Vapor' de José La Féria e antes do 'Rock em Stock' de Luís Filipe Barros (e Ana Bola), estava o programa de António Sérgio 'Som da Frente'. Sérgio foi para milhares da minha geração o apresentador de serviço para bandas alternativas e o bom culpado por me apresentar os The The ou Mazzy Star, entre muitos e muitos outros. O coração deixou hoje de amplificar a vida do radialista, aos 59. Fica o legado construído por ele naqueles dias da rádio.
'...For composing classical music Oldfield has been quoted as using the software notation program Sibelius combined with Apple Macintosh.'
À parte desta conjugação [não se esperaria outra] e trinta e seis anos depois, a obra Tubular Bellsnão é apenas um marco na carreira do compositor, é sobretudo uma obra prima. Arrepiem-se de novo:
O meu 'processo de internacionalização' começou cedo: tive uma companhia austríaca durante algum tempo; ela acabou por passar grande parte do Verão de '79 neste país, repetente do ano anterior, mas dessa nova vez, acabámos por fazer uma volta alargada a este luso quintal pelo centro e norte, já que o sul tinha ficado explorado um ano antes. O comboio foi escolha óbvia para altura, de avião só mesmo entre Viena e Lisboa.
R. gostava de acompanhar quase todas as refeições -já lá chegamos- com café com leite. Uma ocasião, numa cervejaria na Figueira da Foz, fez-me passar por um momento nada convencional ao pedir um galão escuro para acompanhar uns camarões. 'a senhora vai mesmo querer um galão?' -perguntava-me o empregado de mesa incrédulo 'isso até é capaz de lhe cair mal' insistia ele, agora directamente para ela num 'portunhol' clássico, acabando eu por traduzir mas sem a demover. Não foi um, mas acabaram por ser dois. Mesas ao lado corroboraram a opinião do empregado 'olhe que isso vai fazer-lhe mal'. Pois sim, abelha. Mas não fez. Multibanco na época era coisa que não existia, por isso, viajava-se com dinheiro vivo e uns travelers cheques (dela) para uma troca onde fosse possível, por outro lado, havia nos CTT uma espécie de 'banco postal' onde com uma caderneta se podia levantar dinheiro, previamente depositado: levantava-se 500 ou 1.000 Escudos (ou muito menos), o levantamento era anotado à mão idem o novo saldo e um carimbo dos CTT fazia fé do acto. Na altura isto era recorrente para mim, porque em muitas zonas não havia agência bancária do BESCL (hoje apenas BES) mas Correios havia quase sempre, portanto era uma alternativa segura dentro do horário da estações e de segunda a sexta feira, claro está. Fim de semana tinha, portanto, de ser resguardado com tempo. Se tudo correu bem no 'tour' pelo litoral, a coisa complicou-se quando nos embrenhámos pelo interior: apanhados sem o saber num turbilhão de greves que envolvia a banca, correios e transportes (e não me recordo se mais algum sector) fez-nos estacionar no Fundão no parque de campismo local, por muito mais tempo que inicialmente previsto. Pior ainda: comidinha estava esgotada, os travelers cheques já não existiam e o graveto nacional dava apenas para umas carcaças sem grande conduto. Subsistia uma única nota gorda de Xelins austríacos, que para ser cambiada num restaurante que a aceitasse, iríamos sair a perder e bem. Serviu essa nota de caução na recepção do parque de campismo por troca de umas conservas (leite também, naturalmente) e um telefonema internacional. De Graz, na Áustria, veio a salvação dias depois, num serviço da Marconi para a estação de correios do Fundão. O instantâneo fotográfico aqui deste post, apanhou-me carregado de compras no supermercado local, na avenida principal do Fundão, depois de uma semana inteira a pão e caroços de azeitona. Faltava ainda a CP funcionar. Mas isso é outra estória.
'born to be wild' mas só durante as férias. O que sabia sempre a pouco. Esta é um pouco mais antiga que a do post anterior (a revolução tinha apenas cinco anos) e lembro-me relativamente bem desta ocasião em que a foto foi tirada durante uma tremenda saraivada em pleno Agosto e em Lagos. Valeu esta tenda holandesa tipo T3 de refúgio durante a tormenta já que a minha optou por boiar e a de reforço, seca, estava ainda a trezentos quilómetros dali. Da esquerda para a direita, moi-même, o Rodrigo e o Filipe.
Tudo bons rapazes & boas raparigas. Terei sido eu o fotógrafo de serviço, em vésperas de ano novo -ou já nele- algures no início da década de '80, numa quinta -pioneira do turismo rural gerida na altura por um professor com visão empresarial- nos contrafortes da serra de Mira d'Aire. Chegou-me hoje de surpresa, um conjunto de fotos que não fazia sequer ideia que existissem e que afinal têm estado em boas mãos e por lá irão ficar. Obviamente, este é o tipo de post que apenas aos intervenientes pode interessar e é esse o objectivo: en passant, verificam também as maravilhas do formol.
Lembrei-me da versão de 'You go to my head' de Doris Day ao ouvir a magistral interpretação pelo quarteto de Chet Baker. Sinatra também a canta, mas mesmo assim, prefiro aqui a good old Doris nos vocais. Para puro jazz ide ao outro: o Chet.
BB King / Gary Moore: tive a sorte de ver o primeiro no Coliseu de Lisboa e o segundo em Londres num bar, ainda em início de carreira mas já com esta na manga. Virtuosos.
O sonetilho 'Fim' fecha o segundo número da revista 'Contemporânea' de 1922. A autoria é da poetisa Judith Correia de quem não se sabe muito, apenas o suficiente: provocadora, inconformada, livre, mas triste. Causou escândalos, mas não foi primeira página nos jornais da época. Aliás, nem depois. Sabe-se que dela existem 3 obras, e numa delas -'Setembro - Tarde Negra 921'- este 'Fim' foi incluído. À morfina, chamava-lhe ela, a sua 'amante', à poesia um vício.
Como se diria hoje em dia: anúncio muito 'clean'. Para mim, está simplesmente elegante. Tal como muito provavelmente seria o corte dos fatos e paletós do anunciante.
Estava-se em 1922. in revista 'Contemporânea', 1922
Na manhã do dia 8 de Julho, «com o céu azul-claro — nem na própria Serra de Sintra havia nuvens —», Andersen parte para Setúbal, onde irá passar um tempo na quinta de Carlos O'Neill. Durante a viagem anota a observação de que os passageiros, isto é, os portugueses, são graves e discretos «pouca impressão» dando «da vivacidade da gente do Sul». «O sol brilhava no céu claro e sobre as águas tranquilas. Em frente erguia-se Lisboa nas suas soberbas colinas, como uma monumental ampliação fotográfica».
Em Setúbal, instalado na «Quinta dos Bonecos», deleita-se com a vegetação variegada e luxuriante. «Que profusão de cores e variedade de flores ! Até mesmo das fendas dos muros, desabrochavam cravos e cactos que no Norte só poderiam ter sido criados em estufas». Mas o calor atormenta-o : «De dia, só se podia andar cá fora sob a sombra das árvores de espessa folhagem, ou se se queria ir a qualquer parte onde incidia o sol, havia que caminhar vagarosamente e a coberto dum guarda-sol branco».
Começa por visitar o convento de Brancanes, na proximidade, a que se seguem excursões a cavalo ao Castelo de Palmela e à Serra de S. Luís. A majestosa natureza era como «a nave duma igreja no mundo grandioso e estranho de Deus». Ao regressar, com a pele ardente do sol e os membros fatigados, mas maravilhado, Andersen repousa no frescor da noite e todo se entrega à beleza que o cerca. «Como é bela a noite, amena e refrescante / E as estrelas de grandeza e brilho tais». E recordando-se que em breve terá de voltar à sua Dinamarca, escreve estes «versinhos» no livro da família O’Neill :
«Lá no plano Norte verdejante, Recordando todas as impressões vividas Para Setúbal voará o pensamento distante Para junto de todas as pessoas queridas».
A sua curiosidade de viajante continua a saciar-se em Setúbal. Vai ver os festejos de Santo António na cidade e, sensível e medroso, sofre com os estrondos das bombas, com a agitação do povo e com os solavancos da carruagem. «Estava inteiramente convencido que acabaria por quebrar uma perna ou um braço». Visita o edifício do Consulado de O'Neill, o Campo do Bonfim (?) onde «as boas madamas burguesas estavam sentadas, tranquilas e graves, nos bancos, os homens passeavam com mais vivacidade dum lado para o outro». Assiste a uma tourada no dia de São Pedro, vê a Igreja de Jesus e, por fim, faz uma receada e por duas vezes adiada excursão marítima à Arrábida e a Tróia e nela tanto o assustam as vagas que, com ressentimento, ouve o amigo O'Neill afirmar que «não tinha dado provas aí do sangue dinamarquês». [...] Hans Christian Andersen|Visita a Portugal: a visita a Setúbal (1866) Créditos: Texto & imagem Biblioteca Nacional- Expo 2005
Vou pouco a alfarrabistas porque sei de antemão uma coisas: esqueço-me que tenho de sair. Perco-me nos tratados, nas 'Illustração Portugueza', nos grimoire, nas edições nacionais ou estrangeiras de coisas estranhas, raras ou bizarras que nunca me passariam pela cabeça ter sido possível editar, um ou mais séculos atrás. Comparo publicidade feita há mais de cem anos com a actual, anoto termos e expressões. Nesta, aqui reproduzida, da lusa 'Gazeta dos Caminhos de Ferro' de 1902, gosto particularmente do descritivo da Royal Mail Steam Packet Company no que está incluso no preço do bilhete dos seus vapores: 'vinho de pasto, comida á portugueza, cama, roupa, propinas a criados e outras despesas'.