A papelaria, revistas & tabacos do Justino, era assim uma espécie de instituição para a compra-venda-troca de livros de banda desenhada de 'O Falcão', do 'Mundo de Aventuras', 'Zé Carioca' e muitos outros. O velho Justino comprava a cinco coroas (2$50) quatro livros de 'O Falcão' já lidos e relidos, mas para este preço era necessário estar em bom estado e serem os mais procurados, tipo 'Kallar', 'Hogan' e o sempre presente 'Major Alvega'. Por isso, para a garotada 'coleccionadora' este refúgio comprador, significava uns cobres no bolso. Não havia internet nem consolas, nem mp3 nem telemóvel; hoje parece incrível como se ocupava o tempo. Muitos destes pequenos livros de BD fizeram parte do período juvenil daqueles que agora, cronologicamente, já adquiriram o estatuto de 'meio-centenário' e onde me incluo.
Pensava até que a velha papelaria já nem existisse, mas não. Ela aí está, ainda com o clássico símbolo dos CTT na parede (os telefones fixos também não eram assim tantos em meados de '60 e muitas destas casas 'de porta aberta' tinham também um telefone mais ou menos público a que juntavam os selos e postais) e no seu interior parece que nada mudou. Aliás, nem de mãos mudou, continuando o negócio familiar, literalmente tendo o trabalho debaixo da cama.
Entrei onde já não entrava há quase quarenta anos, não para trocar livros, mas para comprar o jornal. Os interesses literários mudam, mas ainda gosto do 'Major Alvega'.