Irrita-me solenemente a prepotência das estações de televisão para com os seus espectadores, pior ainda, quando vem de uma estação dita pública: a RTP
É certo que posso não perceber nada dos meandros televisivos, 'shares', alinhamentos e outros aspectos desse mister. O caso não é virgem: volta e meia a direcção de programas decide arrumar com a série 'Conta-me como foi' sem apelo nem agravo, que é como dizer, sem qualquer explicação. Talvez os repetitivos programas de cançonetas e/ou danças rendam mais para o tal 'share', talvez esses que decididamente nada ensinam sejam efectivamente o espelho do entusiasmo de aprendizagem que temos no povo, no caso, afinação de corda vocal ou foxtrot.
Depois destas, só o mesmo o discutível novo humor portuga.
Na ausência da tal explicação -à data, a página web da série, nada referia e estava desactualizada, excepto nos videos disponíveis que se ficaram pela penúltima semana de Abril- pedi explicações ao Provedor da RTP, este, não tardou a responder e aqui fica a informação recebida:
" Exm. Sr(a) Em nome do Provedor do Telespectador agradeço o e-mail que enviou. Foi tomada em devida conta pelo Provedor o conteúdo da sua mensagem. Junto enviamos o texto que se encontra na página do provedor (pareceres) em www.rtp.pt, a propósito deste assunto: «COMUNICAÇÃO AO DIRECTOR DE PROGRAMAS DA RTP
1. Não quero, nem devo, interferir na criatividade dos Autores, nem sequer nos critérios que definem a actuação da Direcção de Programas da RTP.
2. Assiste-me, porém, a responsabilidade de veicular junto dessa Direcção os protestos que recebi da parte de Telespectadores em relação ao mais recente programa «Os Contemporâneos».
3. Consideram esses Telespectadores que o episódio «A Vida badalhoca de Salazar» do referido programa contém «lamentáveis cenas pornográficas», «de sexo explícito simulado», reclamando para o programa, pelo menos, a indicação de bolinha «vermelha», tanto mais que este programa se seguia a um programa - «A Febre da Dança», com crianças e, pressupostamente, direccionado para auditórios infantis e juvenis.
4. Os protestos assumem ainda um maior volume de queixas pelo facto destes programas contribuírem para retirar da grelha o lugar até agora ocupado pela apreciada série «Conta-me como foi», no dizer destes telespectadores «inexplicavelmente», e sem qualquer aviso, suspenso.
5. Por outro lado, entendem ainda os Telespectadores que o programa «A Febre da Dança» enferma de ser interpretado por um «acto falhado» de contra-programação face aos programas em exibição pelos outros operadores privados, «Atreve-te a cantar» e «Uma canção para Ti», respectivamente na SIC e na TVI.
6. Retomo o sentido inicial desta minha nota. Ao contrário do que muitos Telespectadores pensam, e querem exigir, do Provedor uma acção censória e proibitiva, julgo dever assumir uma atitude de curial comportamento, no âmbito das competências que me estão reservadas, ao veicular junto da Direcção de Programas estas reacções dos Telespectadores.
7. Aliás, esta competência comporta ainda o meu outro dever de chamar a atenção do cuidado que a RTP, enquanto serviço público distribuído para todos os Telespectadores, deve ter para não ofender, na mais diversa pluralidade, os princípios e sentimentos dos seus públicos.
Lisboa, 5 de Maio de 2009
O Provedor do Telespectador José Manuel Paquete de Oliveira»
Informa-se ainda que em Julho irá ser repetida esta última série após o que irão ser exibidos novos episódios.
Renovando os nossos agradecimentos pela sua colaboração
Com os melhores cumprimentos
P/ Chefe de Gabinete dos Provedores "
Créditos: imagem RTP
Telefonema de uma filha para o seu pai no final das férias de fim-de-semana.
- Olá pai. Sou eu, a Fátima.
- Fatinha! Ia partir agora. Está tudo bem?
- O cão desmaiou.
- O cão o quê?
- Desmaiou. Está aqui deitado dentro da tua cama.
- Estás doida? Tira-o já de lá! O que é que ele tem? Comeu alguma coisa estragada?
- Acho que não. Acho que foi de lhe ter limpo o focinho com amoníaco...
- Hã? Para quê?
- Para lhe tirar a tinta branca do focinho. Na embalagem dizia para não se cheirar...
- Ei, calma lá! Mas que história vem a ser essa? Qual tinta???
- A tinta branca do spray, para pintar o carro.
- O Toyota? Riscaste-me o carro a brincar na garagem? Maria de Fátima diz-me a verdade!
- O que é que tu queres? A chave de parafusos escapou-se-me das mãos.
- Mas para que foste tu brincar com uma chave de parafusos para o pé do carro??
- Não estava a brincar pai. Tem dó, estava a tentar arranjar-te o farol ...
- Maria de Fátima, tu partiste-me o farol do carro?
- ...o farol, o pára-choques...
- O quê??? O que é que vocês andaram a fazer na minha ausência? Andaram à pedrada ao meu carro, ou quê?!
- À pedrada não andámos, mas andámos aos pontapés ...
- Ai mau Maria, mau Maria, mau Maria!!!
- A ideia foi do João, pai ... ele é que disse para dar pontapés na chapa que ela acabava por se endireitar.
- Não, isto não está a acontecer ...
- Espera pai, vou passar ao João.
(- João, atura-o tu agora um bocadinho)
- Está? João? João, tu que és mais crescido e responsável, ouve bem o que o teu pai te vai perguntar, o que está a acontecer exactamente?
- O cão desmaiou ...
- Porra! Eu já sei que o cão desmaiou. Eu não quero saber do cão para nada.
Eu quero saber o que aconteceu ao meu carro e quero saber já!
- O teu carro despistou-se e foi contra uma árvore.
- Quê??? Despistou-se? Contra uma árvore?? Mas tu ainda estás a tirar a carta e foste guiar o meu carro sem a minha autorização???
- Eu? Eu não, a Fatinha é que ia a guiar.
- Chama JÁ a tua irmã ao telefone. JÁ!
- Ela está ali a falar com o cão e diz que não pode vir ...
- JÁÁÁ!
(- Fátima, olha a fera ao telefone)
- Está pai, o que queres agora??
- @*!!x* para ti Maria de Fátima, quero saber já, neste momento e neste instante, que história é essa do desastre?
- Bem, se começas a ser malcriado comigo não te digo nada!
- Maria de Fátima!? Alô? Alô?... Mariazinha de Fátimazinha Almeidazinha não me deixes a mostardazinha chegar-me ao narizinho... é um conselhozinho de quem te quer bem!
- Ah! Com esses inhos todos já gosto! Vês como as coisas tratadas com ternura e amor pelo próximo resultam melhor? Então é assim, alguém tinha de ir buscar o João à esquadra, como tu não estavas cá, fui eu no teu carro. À vinda da esquadra ...
- Esquadra??? Da polícia???
- Sim, conheces outra?!!!
- O-que-é-que-o-teu-irmão-fez, Maria de Fátima?
- Não-sei, vou chamá-lo pai Almeida. (-João, é a tua vez!)
- João, eu não me vou pôr com rodeios. O que é que fizeste?
- Soquei o primeiro transeunte que se cruzou comigo, ali na Rua Augusta.
- .gaaaa....
- A sério! Tu farias o mesmo na minha situação!
- gggg?
- Foi assim: estava a passear calmamente quando um velhinho tropeçou e caiu, ali mesmo ao meu lado. Eu não fiz mais nada senão chamar os tipos da ambulância (é ambulantes que se diz?) quando chegaram, acusaram-me de os ter incomodado sem razão, pois uma quedazinha daquelas não justificava a sua vinda. Eu irritei-me, tu sabes como eu odeio aqueles que desprezam a terceira idade, e esbofeteei o velhinho dizendo-lhes em alto e bom som .
- Então e isto??? Já justifica a vossa vinda? Seus ...»
Coitado. Tinha acabado de se conseguir levantar e lá voou direitinho ao chão de novo.
Então eles pegaram no velho e levaram-no para o hospital. Minutos depois apareceu a policia. Eu contei-lhes toda a verdade e aqueles gajos não me prenderam nem nada!!
Disseram que estaladas e coisas assim estavam sempre a acontecer e que não valia a pena terem-nos chamado só por causa disso. Eu irritei-me, tu sabes como eu odeio aqueles que desprezam a terceira idade, e preguei um bom soco no primeiro transeunte que me surgiu à frente, dizendo em alto e bom som
- Então e isto??? Já justifica a vossa vinda? Seus ...
Para grande pena minha, o desgraçado que apanhou o soco era outro velhinho. Tu sabes como eu respeito a terceira idade. A bófia então pegou em mim e levou-me para a esquadra, finalmente.
No dia seguinte a Fatinha veio buscar-me no teu carro ... foi aí que ela se espetou na árvore aí a cerca de quinze quilómetros por hora.
- Ufff! Ao menos isso. Vinham devagarinho então.
- Devagarinho? Não! Vínhamos a mais de cem quando nos despistámos.
- Então mas acabaste de dizer que chocaram a quinze...
- Ai a Fatinha não te disse??? Entrámos aí a uns 190 dentro do parque, nos arbustros, banquinhos e caixotes de lixo baixámos para 150, depois foi a fonte do repuxo e finalmente o amontoado de velhinhos que costumam, isto é costumavam, jogar às cartas nas mesinhas do parque ... foi um final suave. E foi uma grande sorte pai, para nós e para o teu carro.
-Estás a ouvir pai?
-Está lá?? Alô???...
-Ei mana, telefona agora tu para a mãe.
- O que é que eu digo, a mesma história?
- Ah! Pode ser, mas ao menos troca os personagens, sei lá, surpreende-me!
- Olá mãe. Sou eu, a Fátima!
- Fatinha, minha filha, está tudo bem? O pai desmaiou ... agarrado ao coração!
Créditos: nadirzenite.blogspot.com